O Alvo da Vida
Quando observo, por exemplo, uma criança que se destaca pela
sua voz através de falas, discursos, pregações ou pela música, percebo a grande
oportunidade que Deus lhe deu do dom da voz. Muitos dirão que é um prodígio,
outros dirão que é um escolhido por Deus como se Deus escolhesse apontando o
dedo para uns e desprezando a outros. Isso nada mais é do que a conquista
pessoal desta criança (espírito) no decorrer das diversas experiências somadas
nas diversas existências corporais vividas por ela, e eis agora a grande
oportunidade que Deus lhe concedeu para que ela faça da sua voz através da
música, por exemplo, um meio de ajudar a Criação nos seus desígnios junto à
humanidade.
A enxada foi feita para carpir, não para ferir alguém.
Quando se usa a enxada para ferir alguém está se fazendo mal uso do
instrumento. Assim são nossos dons que devem ser usados da maneira mais correta
possível em benefício dos outros e de nós mesmos.
Todos nós estamos inseridos num contexto conquistado por nós
mesmos nas diversas existências e devemos aproveitá-las da melhor forma
possível para sermos merecedores de novas oportunidades, pois Deus é Bom, Justo
e Misericordioso.
O supremo alvo da vida é a perfeição. O caminho que para lá
conduz é o progresso, que é estrada longa que se percorre passo a passo nas
diversas existências corporais onde a cada passo que se dá, o ser recolhe o
fruto de seus trabalhos, enriquece a sua experiência e desenvolve as suas
faculdades.
Nossos destinos são idênticos, pois todos nós buscamos o
mesmo fim que é a perfeição. Somos livres para acelerar ou para retardar a
nossa marcha, livres para mergulhar em gozos grosseiros, para nos retardarmos
durante vidas inteiras nas regiões inferiores? mas, cedo ou tarde, acorda o
sentimento do dever, vem a dor sacudir-nos, e, forçosamente, prosseguiremos a
jornada.
Entre as almas só há diferenças de graus, diferenças que
lhes é lícito transpor no futuro. Usando do livre arbítrio, nem todos havemos
caminhado com o mesmo passo, e isso explica a desigualdade intelectual e moral
dos homens? mas todos, filhos do mesmo Pai, nos devemos aproximar d’Ele na
sucessão das existências, para formar com os nossos semelhantes uma só família,
a grande família dos bons Espíritos que povoam o Universo.
O espiritismo baniu do mundo as ideias de paraíso e de
inferno eterno. Nesta imensa oficina, só vemos seres elevando-se por seus
próprios esforços ao seio da harmonia universal. Cada qual conquista a sua
situação pelos próprios atos, cujas consequências recaem sobre si mesmo,
ligam-no e prendem. Quando a vida é entregue às paixões e fica estéril para o
bem, o ser se abate? a sua situação se complica. Para lavar manchas e vícios,
deverá reencarnar nos mundos de provas e ali purificar-se pelo sofrimento.
Cumprida a purificação, sua evolução recomeça. Não há provações eternas, mas
sim reparações proporcionadas às faltas cometidas. Não temos outro juiz nem
outro carrasco a não ser a nossa consciência, pois essa consciência, assim que
se desprende das sombras materiais, torna-se um julgador terrível.
Na ordem moral como na física só há efeitos e causas, que
são regidos por uma lei soberana, imutável, infalível. Esta lei regula todas as
vidas. O que, em nossa ignorância, chamamos injustiça da sorte não é senão a
reparação do passado.
A vida atual é a consequência direta, inevitável das nossas
vidas passadas, assim como a nossa vida futura será a resultante das nossas
ações presentes, da nossa maneira de viver. Vindo animar um corpo novo, a alma
traz consigo, em cada renascimento, a bagagem das suas qualidades e dos seus
defeitos, todos os tesouros acumulados pela obra do passado. Assim, na série
das vidas, construímos por nossas próprias mãos o nosso ser moral, edificamos o
nosso futuro, preparamos o meio em que devemos renascer, o lugar que devemos
ocupar.
Pela lei da reencarnação, a soberana justiça reina sobre os
mundos. Cada ser, chegando a possuir-se em sua razão e em sua consciência,
torna-se o artífice dos próprios destinos. Constrói ou desmancha, à vontade, as
cadeias que o prendem à matéria. Os males, as situações dolorosas que certos
homens sofrem, explicam-se pela ação desta lei. Toda vida culpada deve ser
resgatada. Chegará a hora em que as almas orgulhosas renascerão em condições
humildes e servis, em que o ocioso deve aceitar penosos labores. Aquele que fez
sofrer sofrerá a seu turno.
Porém, a alma não está para sempre ligada a esta Terra
obscura. Depois de ter adquirido as qualidades necessárias, deixa-a e vai para
mundos mais elevados onde progredindo ainda mais nesses novos meios, a alma,
sem cessar, aumentará a sua riqueza moral e o seu saber. Depois de um número
incalculável de vidas, de mortes, de renascimentos, de quedas e de ascensões,
liberta das reencarnações, gozará vida celeste, tomará parte no governo dos
seres e das coisas, contribuindo com suas obras para a harmonia universal e
para a execução do plano divino.
Cada conquista sobre si mesma, sobre suas paixões, sobre
seus instintos egoísticos permite-lhe uma alegria pura, uma satisfação íntima,
tanto mais viva quanto maior for o trabalho executado.
Eis aí o céu prometido aos nossos esforços. O céu não está
longe de nós, mas, sim, conosco. Felicidades íntimas ou remorsos pungentes, o
homem traz, nas profundezas do ser, a própria grandeza ou a miséria conseqüente
dos seus atos. À medida que ela se purifica, suas percepções aumentam. Tudo o
que nos encanta em seu estado presente, os dons do talento, os fulgores do
gênio, tudo isso nada é, comparado ao que um dia adquirirá, quando tiver
atingido as supremas altitudes espirituais.
(fonte de pesquisa: Livro DEPOIS DA MORTE, Léon Denis)